terça-feira, 11 de junho de 2013

Um.

(Curitiba, PR)
São 6h30 da manhã quando o despertador me expulsa da cama. O calendário marca o dia três e o mês é dezembro. Segunda-feira. Levanto da cama sem tirar a preguiça e sinto uma puta dor nas costas. No celular, nenhuma mensagem de bom-dia de Marina. Sou meio paranoico com algumas coisas. Elas caminham de uma forma errada, me deixando por baixo das situações, então, dentro da minha cabeça, crio conspirações contra mim. Essa caixa de mensagens vazia funciona como se fosse a cereja do bolo e, dentro de mim, a angústia explode. Eu boto os pés no chão e percebo que tudo era bobagem. Ah, Marina, você é tão doce!


(Algumas horas antes, em algum lugar do Estado de São Paulo)

Estamos todos sentados à mesa.
- E então, Marina, já decidiu o que quer de aniversário?
- (Neto, Neto, Neto...) Ah, sei lá, um iPod novo, talvez. – Jurei que não ia mencionar o Neto outra vez, porque Lucas com certeza começaria com suas piadinhas.
- O pai tava pensando em te dar aquele teu namoradinho cibernético, aquele lá, por quem você chora, noite sim, noite talvez.
- (Here we go...) O QUE??
- Ah, filha, tava pensando em te fazer uma surpresa...
(MEU DEUS, MEU DEUS, MEU DEUS)
- Bom, me dá dinheiro pra ir pra lá, ao invés de trazê-lo pra esse circo.
- Marina! – Olha só... Mamãe resolveu abrir a boca.
- Certo. Decida o dia e compre as passagens no meu cartão.
- Como?
- É, isso mesmo que você ouviu. Esse é o meu presente pra você. Afinal, não fazemos 21 anos todo ano.
- Ok.
Tentei não demonstrar muita ansiedade pra que Lucas não começasse de novo. Terminei o jantar o mais rápido que pude e corri pro quarto, pra procurar passagens. Estranhamente, depois dessa notícia, não tive coragem de contar pro Neto. Nem decidir qual seria um “bom dia” para vê-lo.

(De volta à Curitiba...)
No banheiro faço as coisas simultaneamente. Tomo banho, escovo os dentes e me barbeio. Faço tudo com perfeição, afinal, já perdi as contas de quantos dias foram vividos nessa rotina de merda, no mesmo emprego de merda, no mesmo cubículo apertado que mal abriga duas pessoas. Fora isso, até que minha vida é ajeitada, e eu não tenho muito do que reclamar. O foda é quando a escala me manda trabalhar nos finais de semana e eu não posso ver Marina. Saio de casa e piso em bosta de cachorro.
Adoro o centro da cidade.

(São José do Rio Preto, SP)
Quando saí do transe, olhei o relógio e percebi que já eram duas da manhã, do dia três. Ainda estava na frente do computador, olhando para o site de venda de passagens, imaginando Neto e eu, finalmente juntos, no apartamento apertado dele. Peguei o celular e tinha quatro mensagens e uma ligação, perdidas.
- Ele deve estar imaginando milhões de coisas agora, com certeza. Merda.
Levantei da cadeira e, pela primeira vez, peguei de dentro da embalagem dos correios aquela camiseta de uma banda que ele gosta, que eu nem ao menos sei pronunciar o nome, e vesti. Ela realmente tinha um cheiro gostoso. O cheiro que ele disse ser o perfume que usa, às vezes. Deitei na rede que papai colocou na sacada do meu quarto e tentei imaginar como seria sentir esse cheiro dentro de um abraço.

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